Reeleição de Macron poderá reforçar interesse da França em Cabo Delgado

O recém-reeleito Presidente francês, Emmanuel Macron, deverá apostar numa parceria ainda maior, não só em Moçambique, mas também em outras zonas de África dado os interesses da França no continente, prevê o economista João Mosca.
Em entrevista à DW, o investigador do Observatório do Meio Rural (OMR) lembra que há empresas francesas de grande projeção nas áreas do petróleo e do gás, como a Total.
Quanto a um regresso a Cabo Delgado da multinacional – que suspendeu em março de 2021 o projeto de produção de gás natural em Palma depois de um ataque terrorista – o professor catedrático diz que as condições políticas até podem melhorar muito, mas é preciso ter em conta a situação militar na província e as crescentes ameaças terroristas contra ilhas do Índico.
Investigador do Observatório do Meio Rural, João Mosca
DW África: Com a saída do Mali dos militares da França, e por ser um dos países que mais participa na luta contra o extremismo, acha que o próximo mandato de Emmanuel Macron pode significar um interesse numa parceria ainda maior em Cabo Delgado?
João Mosca (JM): Sim, porque a França tem possíveis grandes interesses em África, não só em Moçambique. Um embaixador francês em Maputo dizia, numa determinada receção, que a França é o país que tem as fronteiras mais próximas com estes países, inclusivamente com Moçambique. A França tem protetorados e, inclusivamente, pode acontecer a existência de uma interseção de águas territoriais entre França, Moçambique e Tanzânia, relativamente à bacia do Rovuma, onde existe exploração de gás – não estão ainda claramente definidas as áreas do gás porque há filões que, pelo menos oficialmente e publicamente, não são conhecidos. Por essa razão, e também pelas ilhas que possui no Oceano Índico e ex-colónias francesas no Índico, naturalmente que a França possui esse interesse. E o país possui também empresas nacionais de grande projeção na área do petróleo e do gás.
DW África: Acha que poderá haver uma maior abertura para um eventual regresso da multinacional francesa Total a Moçambique, agora com a vitória de Macron?
JM: As condições políticas podem melhorar muito. Inclusivamente, há um ponto que eu gostaria de frisar com relação a Moçambique, Ruanda e França. Há aqui uma triangulação clara, embora oficialmente se diga que não, de apoios pelo Ruanda, mas com fundos, recursos e interesses franceses no assunto. Tanto mais que já houve reuniões não tripartidas, mas entre o [Presidente moçambicano Filipe] Nyusi, com Macron e com o [chefe de Estado ruandês, Paul] Kagame.
Penso que a Total é a empresa que mais está posicionada para iniciar os trabalhos. Mas o seu início depende muito da situação militar em Cabo Delgado. E também, cada vez mais, podem existir ameaças terroristas em ilhas do Índico.